domingo, 8 de junho de 2008

Fantásticas


"Queridos, estou partindo em férias e lua de mel com aquele carinha maravilhoso que me agüenta há quase 50 aninhos" (Trecho de um e-mail que acabei de ler). Minha idéia inicial era chegar em casa e me atirar no sofá. Mas depois de lê-lo, me animei a escrever. Essa citação foi só para introduzir uma conversa sobre o assunto que mais ouvi nos últimos dias, devido ao Congresso Brasileiro de Geriatria (acabou ontem). Estavam maravilhosas as palestras sobre cuidados paliativos. Esses congressos sempre acabam sendo também um grande evento social. Pude rever muitas pessoas queridas. Amigos, ex-colegas de residência e algumas amizades feitas ao longo de diversos eventos anteriores. Aliás, tenho um sério problema com nomes. Dessa vez, ainda escreveram os nomes bem pequenininhos no crachá, só para piorar - nada que um sorriso simpático não pudesse resolver. O legal de frequentar esses cursos sobre cuidados ao final da vida, é conhecer as pessoas que os assistem. Costumam ser multidisciplinares: têm fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos... No que fui em São Paulo em março, tinha até um ator que já tinha trabalhado como voluntário na Cruz Vermelha. E os colegas médicos presentes costumam ter um perfil bem diferente. Parece que eu vou puxar a brasa para o meu assado ao explicar melhor, porém, não é esse o intuito. Fiquei especialmente fascinada ao conhecer a psicóloga Ligia Py. Já havia lido alguns capítulos de livros escritos por ela. Fiquei surpresa agora há pouco ao colocar seu nome no "Google" e encontrar 36200 citações. Me impressionei pela sua humildade e simplicidade. A palestra dela, no último dia, às 8h, estava cheia. Ao fim da explanação, entendi por quê. Foi muito emocionante. Sempre gosto de enxergar o rosto de quem fala, mesmo nesse tipo de situação pública. E além de inteligentíssima e articulada, ela é muito expressiva. Consegue de fato tocar o espectador. Não pude me conter (como outros presentes) e peguei o microfone para dizer isso a ela. Todos que fizeram o mesmo (também) embargaram a voz ao comentar o impacto de suas palavras. Gostei bastante também de conhecer dois colegas médicos cariocas. Um deles me deu um abraço "de urso" (não confundir com "amigo urso") ao se despedir e falou que havia gostado muito, mas muito mesmo de me conhecer. Ele foi meu parceiro de palco na peça que encenamos no primeiro dia do curso pré-congresso sobre cuidados paliativos. Eu interpretei a filha do "paciente" e ele era o próprio, sofrendo em meio às discordâncias entre "familiares" e o "médico" sobre o que fazer com o "paciente".Aliás, até me desculpei com a diretora (gerontóloga, com formação em teatro), por que eu não consegui ficar séria durante a encenação. O celular do "médico" (na vida real, inclusive) tocou no meio da peça e falei: "Meu pai aqui morrendo e o senhor falando no celular!!!". Um assunto pesado assim requer uma certa leveza ao ser abordado, né? O outro colega também era muito querido e me deu diversas dicas importantes. "Goxxtei muito de te conhecer!" - ouvi novamente. A recíproca foi verdadeira em ambos os casos. Faz muito bem conhecer gente que nos faz bem e nos acrescenta.
Um capítulo a parte foi assistir a Fernanda Montenegro e a Lya Luft tecendo reflexões sobre o processo de envelhecer ("A Arte e a Vida Depois dos 60 Anos"). Foi divertidíssimo. Da Fernanda, eu já era fã. Da Lya, havia lido um livro (não me lembro o título ao certo) do qual havia gostado. Porém, ao conhecê-la pessoalmente, fiquei encantada e com vontade de conhecer melhor o seu trabalho. Tive uma enorme identificação com as duas. Foi engraçado, por que concordei tanto com o que elas disseram que tive a nítida sensação de que tenho bem mais anos de vida do que os meus reles 29 anos. Talvez seja por conviver muito com idosos. Ou quem sabe, pela grande riqueza de experiências que a medicina por si só proporciona (felizes ou não). Sou meio geriátrica mesmo, no melhor sentido da palavra. Uma geronte moderna, é claro. Nunca mais vou dizer a frase "O/A fulano (a) é um(a) idoso(a) de espírito jovem". Isso é uma grande inverdade e não faz o menor sentido. É um preconceito, na realidade. Mais um que eu não havia me dado conta. Agradeço a essas mulheres/pessoas que me enriqueceram tanto. Fantásticas - é o mínimo que posso dizer.

Nenhum comentário: