domingo, 20 de maio de 2007

Alicerces

Estava quase me dirigindo para a minha cama quentinha, após um ótimo papo com uma amiga em um bar da Cidade Baixa, quando comecei a refletir sobre a vida (putz!). Na verdade o assunto foi o tema principal da conversa. Percebi o quanto às vezes é difícil separar o que realmente queremos daquilo que os outros esperam de nós, principalmente quando viemos de uma estrutura familiar tradicional. Somos condicionados a seguir um padrão de vida dito socialmente aceitável: fazer uma faculdade, ter um emprego, construir um relacionamento estável/casar, ter filhos e por aí vai. Isso soou-me como as aulas de Ciência do colégio: "Os seres vivos nascem, crescem, envelhecem, reproduzem-se e morrem". Lembrei imediatamente se algumas das pessoas geniais que conheço foram incentivadas por um dia sequer a seguirem o rumo que traçaram para suas vidas. Será que a mãe da Fernanda Montenegro ficou feliz quando ela disse que gostaria de atuar? Nem sei por que lembrei dela especificamente, poderia ter sido qualquer outro que tivesse tido seus sonhos subestimados. Engraçado que ontem também pensava sobre isso, quando recebi um e-mail do meu irmão com uma mensagem que imediatamente coloquei em meu perfil no Orkut. Toda essa reflexão, que há tempos ecoava dentro da minha cabeça, tornou-se mais intensa ao conhecer um certo alguém que mexeu com os meus brios. Circulo no meu dia-a-dia em um meio extremamente conservador, onde qualquer comportamento ou aparência pessoal que fuja dos padrões são vistos com desconfiança. "Imagina ser atendida por uma médica de cabelo vermelho!!! O que os pacientes iriam pensar???"- comentário proferido por um colega de quem gosto muito, mas que me assustou por vir de alguém com uma capacidade intelectual diferenciada. Me questionei se todos os que seguem modelos de vida pré-estabelecidos o fizeram realmente por vontade própria (vocação?) ou por não terem coragem de terem agido diferente. Vejo por aí uma porção de casamentos frustrados, trabalhadores-robôs, péssimos pais...Aliás, lembrei de algo que li que dizia que era um absurdo todos poderem ter filhos livremente, enquanto que para se dirigir um carro, é indispensável possuir habilitação - achei fantástico. Admiro os que têm coragem de não cederem às pressões,os que conseguem abrir mão de uma vida supostamente segura para seguirem SUAS verdades. Questionei minha própria postura - fiquei chocada ao perceber que a diferenciação entre as influências externas e o meu real "eu" (desculpem o baita clichê) é muito tênue. Estremeceram-se os alicerces, enfim.

sábado, 19 de maio de 2007

Obrigada, Senhor # 3

Estou muito satisfeita por ter encontrado um local para sair na noite que me agradou. Cheio o suficiente sem ser desagradável, banheiros sem fila (por que só uma mulher entende a combinação bexiga pequena + uretra minúscula), boa música e um preço justo. Claro que estar em companhia de amigos divertidos entra no conjunto da obra. Surpresa com meu repentino entusiasmo pela noite porto alegrense, me perguntei o por quê. Percebi então que quem estava diferente era eu. Apesar de ser uma pessoa sociável, não costumo me comportar assim em ambientes desse tipo. Não sei "flertar" (que termo geriátrico-melhor que paquerar, que é adolescentesco). Olhares insinuantes, sorrisinhos sexies, dançar com cabelos esvoaçantes mexendo os quadris...Até que eu tento, mas não sinto naturalidade nisso. Acabo por assumir uma postura defensiva, que soa antipática e até hostil. A minha percepção é que a imensa maioria das pessoas estão ali para suprir suas carências físicas, basicamente. Tudo bem. Ver tanta gente se beijando dá vontade também, mesmo que o teu plano inicial seja de apenas se divertir com os amigos. Parei de reclamar daqueles caras que já chegam "agredindo", sem nem querer saber teu nome e daqueles com papinhos batidos. Decidi ser a Beth (auto referência em terceira pessoa, como as celebridades falam). Sou objetiva, sincera (com quem também é), tenho senso de humor (sarcástico, com os que merecem), não economizo elogios (verdadeiros), sou simpática, romântica (nas circunstâncias pertinentes), adoro contar e ouvir histórias, evito julgamentos e não me anulo para parecer agradável . Se estou afim, verbalizo (morte às pseudo-conselheiras das revistas femininas!!!). Aquele amigo que me chamou de "mulher macha" me disse que posso sofrer os dois extremos das conseqüências: me dar muito bem ou quebrar a cara feio. Como sou uma otimista paradoxal (espero sempre menos dos outros, para mesmo o pouco parecer suficiente ou ótimo), prefiro arriscar. Servir minha cabeça em uma bandeja? Definitivamente não é o objetivo.
Se eu agisse de forma diversa, a probabilidade de atrair homens com perfis inadequados seria bem maior. É claro que os sociopatas (psicopatas) estão por aí (fiquei feliz em saber que esse temor não é só meu). Então, por questão de auto-preservação, uma dose adequada de malícia (não confundir com maldade) se faz necessária. Termino minha reflexão filosófica com a conclusão que sou mais autêntica sóbria do que ébria (obrigada, Senhor #3) .

quarta-feira, 16 de maio de 2007

Fuga de idéias

Ouvi recentemente de um amigo: "tu és a mais "macha" das minhas amigas!" Poderia ter sido traumatizante se tivesse um "flashback" da minha infância, quando meu irmão me chamava jocosamente de "Tonhão" (aquele personagem vivido brilhantemente pela Cláudia Raia, em TV Pirata"). Mas realmente não me causou impacto negativo. Muito antes pelo contrário (adoro esta frase). Sou uma admiradora do universo masculino. Aprecio e, às vezes, até invejo sua visão das coisas. É importante frisar de que não falo necessariamente de homens (os "xy") propriamente ditos. Existem mulheres "machas" (não me refiro à opção, digo, condição, sexual) e homens com um funcionamento fortemente feminino (como o meu amigo que teceu o referido comentário). Daí minha dificuldade de entender o por quê de livros do gênero "Homens são de Marte, mulheres são de Vênus" estarem com freqüência na lista dos mais vendidos. Tenho amigas "machas" e amigos "fêmeas", então essa classificação me soa bizarra. Na verdade, eu mesma estou sendo contraditória escrevendo sobre isso. Sou uma defensora dos homens quando reclamam que suas parceiras os proíbem de sair com seus amigos, assim como é um absurdo que as mulheres abandonem sua vida social quando estão "engatadas". Detesto casais simbióticos, com pérolas do tipo: "só vou se ele for". Então quando um diz uma frase e o outro completa, é por que a relação é patológica (devo ter lido isso em uma "Nova"-revista feminina de auto-ajuda, para mulheres). Como diria uma grande amiga minha "Hellooooou???": só diria "só vou se você for" a algum órgão interno-se ele fosse vital, é claro! Nesse momento, alguém me interromperia dizendo: "mas é preciso ter confiança" e todo esse blá, blá, blá. Tudo bem, eu mesma posso estar chovendo no molhado. Queria dizer, com fuga de idéias e tudo mais, que aprecio diversos aspectos do funcionamento dito masculino. Tento incorporar tudo aquilo que poderia me fazer mais feliz. A objetividade é um deles. Da racionalidade, ainda desconfio. Acabei de, sem querer, demonstrar meu aspecto feminino mais forte: a tendência de interpretar. Mesmo sabendo que homens não lêem entrelinhas e não compreendem o subeetendido, insisto sem querer. Eles não fazem isso deliberadamente. Assim como um homem tende a ter um senso de direção aguçado, as mulheres saem-se muito bem desempenhando múltiplas tarefas ao mesmo tempo. Habilidades distintas, que nos ajudam ou atrapalham (podemos escolher pegar a faca pelo cabo ou pela lâmina). Todo esse papo me fez lembrar de uma pergunta que um dia, ouvi de um certo alguém, a quem conhecia muito pouco: "Tem algo em mim que tu não gostas?". Resposta: "Por enquanto não, mas talvez não seja o momento ideal de te responder, afinal, estou com umas lentes cor-de-rosa que atrapalham a minha visão." Pergunta feminina oriunda de um homem, com resposta feminina proveniente de uma mulher. Análise dos fatos: não reclama que teu/tua parceiro(a) (ex, atual, seja o que for) mudou. Ele (a) se mostrou inteiramente a ti desde o princípio. Foste tu que selecionaste o que queria enxergar. Por que ver é bem diferente de enxergar. E a culpa não é de ninguém.
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Episódio ocorrido "na noite", na Cidade Baixa:

Esperando uma amiga retornar do toalete, com um copo de cerveja na mão, com aquele ar de "estou tri à vontade neste ambiente hostil", sou abordada por um ser verticalmente desfavorecido (SVD) :
SVD: Foi com a tua irmã ou contigo que eu dancei?
EU: Com a minha irmã (irmã=amiga).
SVD: Mas tu és tão linda quanto ela (passando sua pequenina mão no meu cabelo)...
EU: Baaaaaah...Tu sabes que o teu elogio fez TÃO BEM à minha auto-estima quanto se eu tivesse passado em frente a uma obra, de minissaia e comendo uma banana...
SVD: Tu tá me tirando?
EU: Sim, estou. (séria)
O SVD pegou sua cerveja, virou as costas e foi embora.
Conclusão: ao demonstrar interesse por uma mulher, não importa em qual situação, faça SEMPRE parecer que ela é única e especial, mesmo que não seja verdade.

segunda-feira, 14 de maio de 2007

Por que criei este blog?

Sempre gostei bastante de escrever e minha área de atuação profissional não me proporciona oportunidades. Então pensei: seria uma ótima forma de sublimar minha vontade, fugindo do assunto que os médicos invariavelmente abordam: Medicina. Apesar de ter vivenciado durante minha curta experiência profissional um razoável número de histórias, não considero atrativo relatá-las.
Considero os demais campos da minha vida fontes interessantes de "causos" para a construção deste blog. Espero ter a capacidade de extrapolar meu senso de humor (obrigada, Senhor) do meu cotidiano para tal.
Ser capaz de lidar com os percalços da vida com humor e atitude positiva é uma dádiva, porém, são nos momentos nebulosos e até tediosos (por que eu sou normal) que podem surgir os melhores "insights". Para ser exata, tive uma incontrolável vontade de criar este blog quando entrei no Orkut de um amigo que não vejo há tempos, formado em Letras e que encontra-se fora do país para fazer mestrado. Além de ser uma forma de saber notícias deste amigo distante, sempre encontro em seu blog algo interessante. Ele habitualmente escreve observações peculiares sobre o dia-a-dia, com uma perspectiva diferente.
Meu objetivo realmente não é criar um "diário" adulto, até por que estou chegando pertinho dos trinta anos (estou com 28) e alguém já teve essa idéia!
Ah! Também estou rodeada de amigos inteligentes, divertidos, pouco convencionais, que tornam minha existência rica e repleta de afeto (obrigada, Senhor #2). Estes sempre serão minhas inesgotáveis fontes de inspiração!
Em resumo, estou parecendo o Gilberto Gil, que fala prá caramba, conseguindo dizer pouco...

Um grande beijo e abraço a todos o que são importantes e aos que, um dia, deixaram de sê-lo.