domingo, 1 de junho de 2008

Abstinências


Estava em dúvida se iria compartilhar esse momento da minha vida aqui no blog. Não tem jeito, por que acho que vai ser assunto para várias postagens. Fumei meu último cigarro quinta-feira por volta de 18h. Calma, eu não morri. Apenas decidi parar de fumar. Tinha marcado uma data: 3/5/08. Este seria o dia em que faria a prova de título de especialista em geriatria - adiada para o ano que vem por que preciso ter quatro anos completos de formada (tenho 3 e meio - burrocracia, resumindo). Resolvi parar antes. Já vinha diminuindo há algum tempo o número de cigarros por dia e quinta olhei e só tinha um na carteira de Hollywood mentolado. Então pensei: por que não agora? Ainda estou dentro das estatísticas: cerca de quatro tentativas até o sucesso de abandonar este maldito vício. Havia parado de fumar em janeiro em circunstâncias bem adversas. Fiquei um mês sozinha em São Paulo, estagiando na geriatria da USP. Longe da família, dos amigos e do recém promovido a namorado, na ocasião. Caminhei tanto lá em Sampa que cheguei a emagrecer. Resisti e não dei nem uma tragadinha sequer. Me lembro de um dia que estava super quente e passei por um bar e vi um freezer cheio de Bohemia. Não me contive e sentei no boteco para tomar uma cervejinha. Sozinha mesmo. Não tinha long neck, então foi uma grande mesmo. Voltei trocando as perninhas para o hotel... Difícil também foi não sucumbir à tentação de substituir o cigarro por guloseimas. Aliás, mudar meus hábitos alimentares foi uma coisa difícil que consegui nos últimos 2 anos. Fica mais fácil quando a gente pode escolher o que comprar. Só compro guloseimas quando estou com muita vontade de comer. E fico dias sem comer doce - não me faz falta (exceto na TPM). Sou apaixonada por vinho tinto - outra coisa que reduzi bastante em prol da balança. Estou na fase mais crítica, que é a primeira semana. A abstinência é muito desagradável. E olha que provavelmente estou tendo sintomas mais amenos, devido à medicação que tomo para prevenir crises de enxaqueca. Conversei com a terapeuta os prós e contras de se substituir a minha sertralina por bupropriona, este um anti-depressivo com evidências científicas de auxiliar no abandono do tabagismo (atenuando os sintomas de abstinência). Não dá para tomar os dois juntos. Revisei a interação dessas duas substâncias no Cordiolli (tratado sobre psicofármacos). E olha só que legal: existem relatos de orgasmos espontâneos (!) com sua combinação. É verdade! Coisas da química cerebral...Retomando, a bupropiona não previne enxaqueca, então chegamos a conclusão que trocá-la não seria uma boa idéia. Tenho horários de trabalho (e conseqüentemente, de sono) extremamente irregulares, que predispõem a dores-de-cabeça. Nesses primeiros dias, tenho evitado a companhia de fumantes. A grande maioria dos meus amigos fumam. Fiquei feliz de saber que um deles está parando também. Ele faz aulas de canto e fumar estava (também) prejudicando a sua voz. Outro amigo meu também me perguntou ontem por e-mail como eu estava conseguindo. Penso que não tem fórmula, não. Claro que existem medicamentos, como a bupropiona (já citada) e adesivos/chicletes com nicotina. Mas o mais importante mesmo é estar motivado. Eu, como geriatra, nunca vi um fumante chegar em boas condições de saúde à terceira idade. E eu quero ter uma boa qualidade de vida agora e também no futuro. Duas pacientes que conheci no ano passado me fizeram refletir bastante sobre isso. Uma foi uma moça de 30 anos que atendi na noite de Natal em uma emergência aqui de Porto Alegre. Estava com uma infecção decorrente da quimioterapia para um agressivo tumor de pleura (na caso, sem relação com tabagismo), já em estado avançado. Provavelmente, aquele fosse ser o último Natal dela, por isso a oncologista que a acompanhava prescreveu um tratamento que pudesse ser feito em casa. A outra paciente, uma senhora de oitenta e poucos anos, sofria de um outro tipo de câncer, também não relacionado ao tabaco. Ela ficou lúcida até o finalzinho, o que é incomum no perfil de pacientes que costumo assistir. O esposo dela era um senhor muito querido, que parecia ser muito apaixonado pela esposa (correu uma lágrima, agora). Jamais vou esquecer a expressão dele ao vê-la partindo. Bem, o que eu quero dizer com isso é que morrer deve ser fácil - difícil é para quem fica. A morte é um processo natural tanto quanto nascer. Entretanto, pensei naquele momento que jamais gostaria de ter a sensação de ter uma parcela de culpa pela minha morte. Afff! Tá meio pesado o assunto dessa postagem. Desculpem, queridos leitores. Estou meio erradinha hoje. São abstinências demais para o meu gosto...rs. Vou entrar no site www.mundocanibal.com.br para dar umas risadas. E vou comer por que a fome me deixa braba - me faz rançar que nem criança...Argh! Hoje, nem eu tô me aturando...

4 comentários:

Unknown disse...

Postar a tua experiêcia em largar esse vício vai servir de motivação para muita gente, ainda mais com o teu "insight" médico sobre o assunto. Estou torcendo por ti! Força nessa hora e não ceda à TPM! Minha carteira também está acabando. Por que não agora?!?

Beth disse...

Tomara mesmo, David!
Obrigada - também torcerei por ti!
Abraço,

Beth

Anônimo disse...

ÊÊÊÊ!!!
Mais uma pra minha turma!!!

O meu segredo é não parar de uma hora pra outra, mas restringir a 1 só por dia até parar completamente!
E esse 1 tem que ser seguido a risca, pra curtir bastante.
Por causa disso, já estou sentindo o gosto ruim na boca e já não tá mais se tornando uma coisa tão prazerosa...

Mas, tem uma exceção: me permitir fumar quando saio pra tomar cervejinhas!
Afinal, a vida tem que ter um equilíbrio pra ficar mais gostosa!

Beijos e estou torcendo por ti!

Unknown disse...

Passados 11 dias, não sofro mais com abstinência. AS vezes só na hora de dormir é que me dou conta de que não pensei em pitar durante todo o dia.
Muito obrigado pelo bom exemplo, Beth. Mais uma razão para eu te ter em alta conta. Te considero!! heheheh!
Um GRANDE abraço!
David