sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

Queimando o sutiã

São exatamente quatro horas da manhã quando comecei a escrever este texto. Acabei de chegar na minha querida casinha e vim correndo para a frente do micro. Com fome e sede, trouxe a minha garrafinha de água e uma barra de cereal. Fiz esta noite o que considero a queima definitiva do meu sutiã. Tomei coragem, impulsionada pelos dizeres de "Sunscreen" (versão brasileira do repórter e gato - atropelado - Pedro Bial): "faça todos os dias uma coisa que realmente te dê medo" (assassinando o português, em prol da linguagem coloquial). Estava com uma amiga no Cherry Blues geriatricamente sentadinhas tomando uma Coca Zero quando resolvemos "vazar" (adoro essa palavra) dali. No meio do caminho para outro local, minha sempre companheira de festas começou a bocejar (se tem uma pessoa que tem esse direito, é ela). Então, a deixei em casa, sem mencionar que pretendia sair "solita". Ela poderia querer me persuadir do contrário ou ir se arrastando só pela parceria ("é bem o teu tipinho"). A caminho do local escolhido, dirigia pensativa: "É hoje que eu acabo com essa frescura! Eu, uma mulher moderna e com iniciativa, vai ficar com medinho DISSO???" Vinte e nove anos na cara e NUNCA havia me aventurado sozinha na noite de Porto Alegre. Confesso que a primeira tentativa, há cerca de um mês, não foi bem sucedida. Fiquei parada um tempo dentro do carro olhando a fila, pensando como me sentiria decadente (auto-crítica mordaz, como só uma fêmea é capaz)no meio daquela multidão. Com o orgulho ferido pela minha covardia, voltei para o conforto do meu lar. Mas hoje foi diferente (e como!). Mãozinhas trêmulas na fila, mexendo na bolsa a toda hora. Controlado o nervosismo inicial, entrei. Porto Alegre é um ovo, como todos sabem. Tive essa exata noção quando encontrei quatro pessoas conhecidas em menos de dez minutos (inclusive uma médica que conhecia de vista). Após puxar papo no banheiro com a referida colega, engatamos um longo papo sobre assuntos diversos e logo tinha feito duas amizades (amiga da amiga).Simples assim. Achei tanta graça que ambas me cumprimentaram pela minha atitude. E me vi ali, à vontade como muitas vezes não consegui mesmo em companhia de amigos. Estava feliz comigo, o que faz toda a diferença. Minhas recentes amizades foram embora e eu fiquei (elogiada novamente). Ao pedir uma Bohemia no balcão (só me faltava coçar o saco, se eu tivesse um), um moço simpático pegou a minha mão e disse "Noooossa, que mão gelada!". Resposta em tom amigável: "Tudo bem que já são 3 da manhã, mas já estás partindo para a agressão!". E mais tarde engatei um papo ótimo com esse amável rapaz. Jornalista, quase advogado, "meio metido em política" e mais uma porção de coisas. É claro que não poderia deixar de dar um fora (momentos Beth - não têm preço). Depois de dizer a um psiquiatra (sem saber que era): "Deus me livre! Psiquiatra é tudo louco!!!", soltei uma pérola bem pior. Falei a um político: "Político??? Credo!!! Vê se não bate a minha carteira!!!". Essa foi ótima (nada pessoal, amigo). Pensando agora sobre a minha aventura inicialmente solitária, extrapolaria os acontecimentos para a totalidade da minha vida. Enfrentar coisas que causam temor é sempre algo de bom que podemos fazer em prol de nós mesmos. Em vez de pensar "O que aconteceria se eu fizesse "X" coisa?", sempre tendo a cogitar o que deixaria de ocorrer se eu NÃO tivesse feito "X" coisa. Pode parecer inconseqüência, se analisado superficialmente. Não se trata disso. Diz respeito a detectar e superar limites, quebrar tabus (sobretudos os próprios, mais rígidos que os extrínsecos). Tenho questionado bastante algumas das minhas atitudes. Mulher que convida, mulher que chega, mulher que se revela...Breguíssima essa frase. Resolvi, a partir de hoje, obedecer à minha natureza. Sem culpas. Sem constrangimento. Ressuscitei aquela garotinha que marcava com o colega de aula no recreio para declarar sua paixão, com o coração saindo pela boca. Aliás, não tem sensação mais prazerosa do que essa. Não há nada mais gostoso do que se conquistar o que (ou quem) se quer. Sem psicopatia, é claro (estilo Glenn Close, em "Atração Fatal" - baixíssima tolerância à frustração). Saber o que/quem se quer (ou não, fundamentalmente), é um afago à auto-estima (ou ela própria?). Me recuso a viver "Como insetos em volta da lâmpada". É isso aí. Cazuza, tinhas toda a razão. Então, descansem em paz os mortos-vivos.

Um comentário:

JC Baldi disse...

Bem legal.

O Cherry Blues anda super decadente, isso explica os bocejos logo em seguida da tua amiga...rs